A impulsividade é um traço de personalidade presente em maior ou menor grau em todas as pessoas. Ela engloba características como espontaneidade, criatividade, irreverência, rapidez de resposta, precipitação e desorganização. Em Psiquiatria, impulsividade tem sido relacionada com transtornos do comportamento caracterizados por instabilidade afetiva e dificuldades em: sustentar atenção, reconhecer e se conduzir de acordo com regras sociais, tolerar o adiamento de uma gratificação, controlar impulsos agressivos.
Apesar de ser uma característica central em vários diagnósticos, impulsividade não recebeu grande atenção da Psiquiatria até o final da década de 80 e princípio dos anos 90. Neste período, a Associação Norte-Americana de Psiquiatria publicou sua revisão da terceira edição do Manual Estatístico e Diagnóstico, DSM-III-R, que melhorou e ampliou a descrição de síndromes impulsivas classificadas na seção Transtornos do Controle do Impulso. Os transtornos incluídos nesta seção apresentavam em comum fracasso em resistir a um impulso perigoso para a própria pessoa ou para outros, tensão crescente ou excitação antes de cometer o ato impulsivo e alívio após sua realização. Arrependimento, auto-recriminação ou culpa são sentimentos que resultam frequentemente destes comportamentos. A seção inclui os seguintes diagnósticos: Transtorno Explosivo Intermitente, Cleptomania, Piromania, Jogo Patológico e Tricotilomania.
Dentre estes diagnósticos, Jogo Patológico tem recebido mais atenção, provavelmente por uma combinação de fatores: 1) fazer apostas é um comportamento bastante popular, mesmo entre pessoas que não apresentam problemas com isso; 2) a compulsão por jogo pode ter conseqüências devastadoras para o indivíduo e sua família; 3) jogos de azar são uma faca de dois gumes, de um lado podem auxiliar no desenvolvimento de uma indústria do entretenimento e aumentar a arrecadação de impostos, de outro pode facilitar lavagem de dinheiro, sonegação fiscal e financiamento indireto do crime. Do ponto de vista subjetivo, a dependência de apostas é o que causa mais fascínio seja no clínico, ou no leigo. O primeiro contato com um jogador compulsivo marca porque observamos naquele indivíduo todas as marcas da dependência.
Mas o senso comum nos diz que estes comportamentos são causados pelo uso repetitivo de uma substância química. Onde estaria a “droga” do jogo? A resposta um tanto simplificada seria na aposta. O jogador tornou-se um dependente da excitação causada pelo ato de arriscar dinheiro ou outra forma valor. Somente esta sensação já basta para envolvê-lo, se em seguida ao ato de apostar, ele conseguir resgatar o prêmio – tanto melhor. Muitos jogadores compulsivos relatam uma grande vitória no começo do envolvimento com jogo, ou um período inicial particularmente lucrativo. Com o passar do tempo o acaso trata de equilibrar ganhos e perdas e o jogador aumenta o valor das apostas tentando experimentar novamente o prazer mais intenso dos primeiros dias felizes de jogatina. As dívidas começam a se acumular. Tentando reverter o quadro, o jogador aumenta ainda mais as apostas para recuperar o dinheiro perdido.
Os problemas se acumulam: atrasos de pagamento, reclamações da família, do empregador, dificuldade de concentração e esgotamento em virtude de noites sem sono na frente de uma máquina ou mesa de carteado. Às vezes, o dinheiro acaba, ou a família intervém forçando o jogador a interromper as apostas. Esta abstinência forçada causa inquietação, angústia e mais vontade de apostar. O jogador, então, toma dinheiro emprestado escondido, mente e reinicia este comportamento circular numa espiral descendente.
Mas por que algumas pessoas farão apostas de vez em quando e não terão qualquer problema com isso e outras se tornarão compulsivas?Quais seriam os fatores de risco? As investigações neste campo ainda são iniciais, mas algumas características foram descritas como mais comuns em jogadores compulsivos: abuso emocional ou abandono na infância, ser portador de outros transtornos emocionais e psiquiátricos e ter história familiar de dependência química ou de jogo na família. Parece haver um componente genético inegável nesta associação familiar entre jogo e dependência química. A grande questão é o que está sendo transmitido pelos genes.
Mas por que algumas pessoas farão apostas de vez em quando e não terão qualquer problema com isso e outras se tornarão compulsivas?Quais seriam os fatores de risco? As investigações neste campo ainda são iniciais, mas algumas características foram descritas como mais comuns em jogadores compulsivos: abuso emocional ou abandono na infância, ser portador de outros transtornos emocionais e psiquiátricos e ter história familiar de dependência química ou de jogo na família. Parece haver um componente genético inegável nesta associação familiar entre jogo e dependência química. A grande questão é o que está sendo transmitido pelos genes.
Certamente não é a doença, pois a mesma depende de contato com fatores externos para se desenvolver, então acredita-se que seja um fator de vulnerabilidade que pode se manifestar, ou não, dependendo da história do sujeito. O próximo passo, então, é saber se tal vulnerabilidade pode ser identificada previamente por meio de exame ou observação direta. As pesquisas nesta área ainda não produziram resultados generalizáveis, contudo estudos de seguimento de adolescentes identificaram a impulsividade como um dos fatores determinantes de envolvimento progressivo com jogos de azar. O que nos leva de volta ao princípio deste texto. Impulsividade é um traço de personalidade em parte determinada por fatores genéticos.
Assim como outras características de personalidade, ela não é necessariamente negativa ou positiva, se de um lado ela combina espontaneidade e criatividade, de outro ela pode se manifestar como reações impensadas que privilegiam a chance de um ganho imediato, apesar do risco de conseqüências tardias mais graves. Quando somos crianças e adolescentes a responsabilidade é de nossos pais e tutores. Porém, o controle deve ser transferido progressivamente, de forma que, uma vez adultos e conhecedores de nossa herança e nossa história, caiba a nós a tarefa de equilibrar fragilidade e potencial para conseguir da vida o que ela tem de melhor e ser feliz.
Traduzindo na prática: lembre que apostar pode causar dependência, se ao jogar você perde o controle com freqüência talvez seja aconselhável não se envolver mais com apostas e se um problema com jogo já existir deixe de lado o orgulho, medo, ou vergonha e procure tratamento.
Dr. Hermano Tavares